ETP - Gênesis. Qualquer contratação/aquisição, qual a origem de um ETP eficaz?

Pessoal, trago uma provação de reflexão para ajudá-los a iniciar uma contratação/aquisição com maiores chances de sucesso.

  1. Minimizar o risco de ocorrer o atendimento parcial da demanda, ou até mesmo o risco de não atendimento da demanda, dentre outros.

Nos treinamentos que ministro, gosto sempre de fazer mais perguntas do que afirmativas. Acredito que provocar reflexões, levar ao raciocínio, gerar debates e pontuar as conclusões ajuda muito a sedimentar o conhecimento. Então lá vai

Quem pode me dizer atualmente, independente da a instituição ser estatal, executivo federal, judiciário, ou o que for, o que cada instituição contrata/adquire? No dia a dia de vocês, o que vocês vêm contratando, ou adquirindo?

Se ninguém responder, depois eu respondo.

@walterluis, @ronaldocorrea, @GeraldoFalcao, @Thiago, @marcelosantarem, @ArthurAAFerreira

Abraço!

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Oi, @Marcelo_Thiers, sempre tratei contratações como projeto. O que faço é não perder o foco no que o demandante PRECISA e na VIABILIDADE disso.

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Um dos marcos muito importante pra mim, no planejamento e na execução foi o dia em que passei a tratar as contratações e aquisições no conceito de projeto.

O ganho é muito grande.

Para quem é da área de projetos pode estranhar, haja vista contratações e aquisições ser um dos outros processos contidos na gestão de projetos.

Mas ver uma contratação/ aquisição como projeto é uma grande sacada. Com projetos, atentamos para tratar de conceitos super importantes, o EVTEA, por exemplo.

Mas vamos lá pessoal, o restante o que acham mais que a gente contrata/ adquire no dia a dia?

Vamos lá pessoal, para aqueles que pensaram que a Administração Pública contrata serviços, ou adquire materiais, equipamentos, se pensarmos na gênese na origem, temos que dar ainda alguns passos atrás.

O que a Administração Pública contrata/adquire são soluções.

Pensando assim, faz uma diferença enorme, pois se o que é contratado/adquirido são soluções, e não serviços, ou materiais, equipamentos, então nos obrigamos a perguntar, solução de quê? Se é uma solução, tem que ter um problema para ser solucionado.

Viram? Uma questão conceitual pode modificar totalmente o rumo das ações práticas seguintes, pois ao trabalharmos o ETP iniciamos pela boa delimitação do problema. O que muita gente tem feito é iniciar delimitando a solução, sem explorar devidamente o problema.

Existe o planejamento, mas com um olhar parcial da necessidade.

Olhem só essa pérola do TCU Acórdão**: 2407/2006 - Plenário “Voto do Ministro Relator** (Coloquei em tópicos, caixa alta e grifei)

ü O que a Administração Pública busca é mais do que um bem ou serviço, são SOLUÇÕES.

ü Quando não conseguimos descrever EXATAMENTE o que precisamos, corremos o risco de adquirirmos soluções mal avaliadas.

ü Uma boa descrição da solução tem início na boa descrição do problema.

ü Reservar um tempo para estudar o problema serve para prevenir refugo, retrabalho, recompra …

@walterluis veja só a sua fala, ou seja, o conceito de projetos sendo fortemente utilizado aqui. Isto é**, temos que gastar uma boa energia na definição do ESCOPO.** A boa definição do escopo, para mim representa o começo de todo o sucesso da contratação/aquisição, ou de todo o projeto. Até a elaboração de um EVTEA, fica mais amparada.

Se fizemos todo o resto com o máximo de efetividade, e não tivermos um bom escopo delimitado, teríamos feito tudo bacana, ainda assim, correndo um grande risco de ocorrer o atendimento parcial da demanda sem percebermos, até que seja tarde demais e já tenhamos dispendido muitos recursos (tempo, pessoas, financeiros, etc.)

Um exemplo que eu passei, lá por volta de 2008, foi, que me demandaram para fazer um TR sobre aquisição de central telefônica. Nem falavam de ETP do jeito que falam hoje, ou seja, já me apresentaram uma solução e eu pude constatar que nem tinham explorado o problema, se a central telefônica anterior pifou, a lógica era só substituir, pensaram.

Depois da realização de estudos técnicos preliminares, constatamos:

  1. Que uma central telefônica naquela época já era praticamente um equipamento intensivo em tecnologia.

  2. A velocidade da desatualização dos bens intensivos em tecnologia, naquela época, já era muito rápida.

  3. Os custos de contratos de manutenção preventiva e corretiva desses equipamentos, substituição de peças e custo do tempo em que os equipamentos após um tempo, poderiam ficar parados por panes, eram maiores, se comparado com o custo de locações de algumas soluções que poderiam atender o mesmo problema.

Perceberam? O que parecia ser a solução, que era de aquisição, na verdade se transformou numa contratação, de outras soluções com a capacidade de absorver todo o ganho dos avanços tecnológicos. No fim, todos perceberam que estávamos buscando uma solução de comunicação e que poderia ser uma central física, virtual, ou outra solução, a contratação, ou aquisição seria só uma consequência.

Depois dessa fala, pergunto. Alguém aqui adquire veículo? Espero que a resposta seja não. Pois o que buscamos, adquirir/contratar é uma solução de transporte, que pode ser aquisição de um veículo próprio, ou até mesmo um serviço de taxi-gov. quem vai responder é a boa delimitação do problema do caso concreto.

Conheço um exemplo de aquisição de veículoS, que chegaram em determinada Regional sem capota marítima, sem película, sendo que eram para percorrer terrenos de praias e regiões interioranas com estradas de barro, isso tudo com o bagageiro do carro contendo vários equipamentos caros, sujeitos a maresia, lama e furto quando estacionadas em regiões distantes e os técnicos tivessem que se afastar dos veículos. Por que a película? Por acaso, o estado onde fica essa regional tem, conforme estudiosos do tema, um dos maiores índices de incidência solar e do país e acumular uma grande quantidade de casos de câncer de pele.

Acharam que o problema de uma sede era o mesmo de outras, e por isso aplicaram a mesma solução.

Resultado, carros novos utilizados somente na área urbana, subutilizados e ficaram um bom tempo viajando pedindo veículos emprestados de outros órgãos.

““Um problema bem definido é um problema meio solucionado” (Charles F. Kettering)

“Se eu tivesse oito horas para cortar uma árvore, gastaria seis afiando meu machado”. Abraham Lincoln

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Marcelo,

A professora Cecília da Enap tem defendido há um bom tempo que no Estudo Técnico Preliminar devemos focar, principalmente na descrição detalhada do problema e na identificação dos requisitos necessários para a escolha de uma solução que o resolva.

Inclusive, a norma operacional do SISG, que entra em vigor agora em julho, trata O Estudo Técnico Preliminar nesses termos :slight_smile:

IN 40/2020-SEGES/ME
Art. 1º Esta Instrução Normativa dispõe sobre a elaboração dos Estudos Técnicos Preliminares - ETP - para a aquisição de bens e a contratação de serviços e obras, no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional, e sobre o Sistema ETP digital.

Parágrafo único. Para os efeitos desta Instrução Normativa, considera-se ETP o documento constitutivo da primeira etapa do planejamento de uma contratação que caracteriza determinada necessidade, descreve as análises realizadas em termos de requisitos, alternativas, escolhas, resultados pretendidos e demais características, dando base ao anteprojeto, ao termo de referência ou ao projeto básico, caso se conclua pela viabilidade da contratação.

Diretrizes Gerais

Art. 5º Os ETP deverão evidenciar o problema a ser resolvido e a melhor solução dentre as possíveis, de modo a permitir a avaliação da viabilidade técnica, socioeconômica e ambiental da contratação.

http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-n-40-de-22-de-maio-de-2020-258465807

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Pôxa, @ronaldocorrea, que definição entendimento bacana! o da Profa. Cecília.

Essa argumentação que eu descrevi, que é super aderente ao entendimento dela, abarcando a felicidade que foi o olhar sob o contexto de projetos proposto pelo @walterluis, eu tirei dos slides que eu também ministro treinamento para ENAP, inclusive fez parte de um projeto da ENAP que eu ministrei sobre esse mesmo tema para atender as unidades da PRF em todo o Brasil.

Eu costumo dizer nesses treinamentos para a ENAP e outras instituições, sobre ETP, que, se eu não consegui repassar mais nada, mas conseguir mudar esse mindset dos participantes, já tive um grande êxito.

Veja como essa mudança no conceito, na origem redefine a forma como vêm sendo feitas grande parte das contratações e aquisições.

Estou ansioso por essa normatização, já ouvi falar, acredito que com a competência e vontade de muitos, inclusive dos que fazem parte desse grupo, estamos num rumo de aperfeiçoamento da gestão pública muito acelerado e sem volta.

@ronaldocorrea, @walterluis, tmj (parafraseei, ou "parasiglalei"o @walterluis, risos, não sei colocar o símbolo do jogo da velha) , parabéns pela iniciativa e manutenção com os demais pariticpantes desse ambiente de disseminação e geração de conhecimento, grande abraço!

Ansioso pela normatização, digo a entrada de sua vigência, pois conforme escrevi, a fina força o mindset da gestão pública está mudando e na grande maioria dos casos, somente após a vigência, as vezes, tempos após a vigência é que percebe-se sua eficácia da norma.

Mas o legal é que o movimento já começou.

@Marcelo_Thiers a In 01/SGD (antiga IN 04 SLTI) tem forte influência do PMBoK trazidas pelos ATIs.

Pode ser observada essa influência em algumas terminologias e orientações, como por exemplo o componente iterativo da gestão de riscos, bem no início eu confundia esse termo com iNterativo.

Tendo em vista eu ter vindo de projetos para governança, confesso que me afeiçoei muito ao PMBoK e fui absorvendo os outros frameworks posteriormente.

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Ouço com certa frequência reclamações quanto a ter que elaborar ETP. A fala mais comum é: “já sei o deve ser contratado, para que preciso fazer um estudo técnico preliminar”?

Daria para fazer um talkshow de possíveis respostas estilo “Dona Hermínia” que esta pergunta merece. Mas o momento é sério, então vamos manter o profissionalismo. Talvez, inclusive, esta seja a palavra que melhor expressa o que vem faltando: profissionalismo. A ela se opõe o amadorismo. É preciso abandonar o “modo amador” de fazer compras públicas.

Será que quem pede algo, pensando ter a “melhor solução”, realmente a encontrou ou quer apenas “dar um jeito” e “se livrar” da tarefa? Quer somente “executar o orçamento”, pois não pode “devolver dinheiro”?

Sem dúvida o ETP é uma ferramenta fundamental para garantir que, seguindo padrões mínimos, se consiga profissionalizar o processo de escolha da solução.

Será ótimo acompanhar a evolução nas compras públicas e a implementação do ETP Digital.

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Ótimas considerações @karinagondim :clap:

@karinagondim,

Muuito bem colocado o conceito de profissionalismo nessa discussão.

Lendo o seu texto eu lembrei imediatamente de conversas que eu tinha com um amigo o Isaías. Entre chamava de"administração caseira"qando falávamos de diversas iniciativas da Gestão Pública com essa ausência de profissionalismo . Ele ficava indignado.

Resultado.

  1. Aquisição - equipamentos recebidos, sem funcionar, subutilizados, precisando de adequações de layout, precisando de aquisições complementares, custos maiores, ou seja soluções mal avaliadas.

  2. Serviços - contratações com escopo incompleto, pedidos de favores para as contratada, por conta de necessidades que não foram previstas inicialmente, realização de sucessivos aditivos, custos maiores. Mais uma vez, soluções mal avaliadas.

Realmente é questão de ser profissional.

Colegas,

Voltando a questão da diferenciação entre a descrição de uma solução (objeto) e a descrição de uma necessidade (problema), entendo que este ponto é importante para evitar que se crie um viés, influenciando na avaliação de qual será a melhor solução para atender determinada necessidade e podendo levar a contratações inadequadas. Tenho visto diversos palestrantes alertarem para o hábito de indicarmos como necessidade a solução com a qual estamos acostumados a trabalhar e não a necessidade que a solução deverá suprir.

Acredito que a definição adequada da necessidade (problema que se deseja resolver) seja uma das principais dificuldades na fase de planejamento da contratação, em conjunto com a indicação pormenorizada dos elementos cuja ausência (requisitos) causam o problema.

Vou postar aqui o raciocínio que desenvolvi procurando esclarecer essa a situação.

Tudo começa com uma necessidade, termo que costuma ser definido como algo que não pode faltar, essencial ou como alguma coisa que está faltando, uma carência. Em algumas situações necessidade é definida como uma obrigação, algo que precisa ser realizado. Considerando a Administração Pública pela perspectiva de um conjunto de obrigações estabelecidas através de diversos normativos, entendo que uma necessidade pode ser vista como uma dessas obrigações. Por exemplo, temos a obrigação de manter as rotinas de trabalho operacionais entregando os resultados definidos, temos a obrigação de adequar os órgãos as novas demandas legais, temos a obrigação de buscar a melhoria de forma a mantermos a eficácia, a efetividade e a eficiência. Tomando o caso da contratação de uma solução de transporte, o atendimento a necessidade de transporte provavelmente destina-se a manter o funcionamento de rotinas de trabalho, o mesmo ocorrendo para contratação de uma solução de comunicação a distância ou telecomunicação (central telefônica). A obrigação de trâmite processual somente por meios eletrônicos (sistema SEI) pode ter criado a necessidade de contratação de mais equipamentos para acesso a sítios eletrônicos do Governo Federal.

Me parece que a questão que precisa ser respondida para definir a necessidade de contratação é: “Que obrigações deixarei de cumprir se esta contratação não ocorrer?” (Prazos serão descumpridos? Serviços serão interrompidos ou degradados? Demandas legais deixarão de ser acatadas? Oportunidades de melhorar a eficiência serão perdidas?)

Por fim, com a necessidade definida vem a segunda pergunta, que ajuda a definir os requisitos da solução: O que preciso ter para cumprir essas obrigações de forma eficaz, efetiva, eficiente e em conformidade com as regulamentações vigentes e orientações de boas práticas?

Por favor fiquem à vontade para indicar ajustes no raciocínio exposto e para complementá-lo.

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@cidpires, que argumentação legal!

Permita-me curti-la por partes:

Primeira parte: “indicarmos como necessidade a solução com a qual estamos acostumados a trabalhar e não a necessidade que a solução deverá suprir.”

Esse alerta venho dando há um bom tempo no treinamentos que ministro, acredito que é o ponto central do início da discussão, e da forma como você escreveu ficou bem legal!

Vou fazer uma afirmativa sobre algo que você ouviu, sem nem perguntar antes, aposto como você já ouviu alguém responder, quando indagado por que fez tal exigência a seguinte resposta: “não sei, é por que sempre foi assim”, ou, “desde que eu cheguei que é assim”. Ouviu, ou não? pode ser uma variação dessas respostas. Olhaí a tal da “Solução com a qual estamos acostumados a trabalhar” que você escreveu.

Ninguém nem trata se a pretensa solução é mais onerosa, o quanto é ineficaz, ineficiência, e por aí vai, anos e anos depois está lá repetida nos instrumentos de planejamento. Note que nesse caso não se trata se há ou não planejamento e sim o que se busca no planejamento, embora a gente sabe que ainda não há uma cultura de planejamento arraigada, mas já está germinando, e aí eu entro na segunda parte na sua escrita.

Segunda parte: “tudo começa com uma necessidade” muuito bem colocado. Aqui muitas pessoas se perdem no que você descreveu e em algo que sempre trago nos treinamentos. A diferença entre necessidade e desejo.

Sabe, o desejo é algo maravilhoso e que tende a nos conduzir na busca de soluções cada vez mais robustas, até mais do que precisamos para atender a respectiva necessidade, consequentemente onerando ainda mais do que a solução extritamente necessária.

Segunda parte ponto um: Você mencionou algo muito interessante, que ajuda nesse momento, já mencionado pelo @ronaldocorrea, quando citou a Profa. Cecília, que traz o tema da coleta de requisitos para dentro de sua definição de ETP.

Como fazer uma boa coleta de requisitos? Conforme disse o @walterluis , o pessoal da ATI tem uma grande ligação com o ambiente de projetos, quando citou a IN que trata de contratações de TIC mencionando que traz semelhanças com o conteúdo do PMBoK e a turma da ATI. Isso faz com que eles entendam mais facilmente esse assunto de coleta de requisitos.

Procuro explorar esse ponto da coleta de requisitos nos treinamentos que ministro sobre elaboração de ETP, acredito que também é explorado pelos demais, pois é muito importante.

Nesse momento, saber fazer as perguntas certas é de extrema relevância, lembro sempre de um desenho que minha filhinha sempre assiste, o Show da Luna, quem tem filhos pequenos sabe qual é. O desenho ensina a fazer perguntas do começo ao fim e a testar as respostas. Sempre menciono esse desenho no início desse tópico de coleta de requisitos.

Observei na sua narrativa o tanto de pontos de interrogações, é isso mesmo, “são tantas perguntas” é o lema da Luna.

Terceira parte: "Que obrigações deixarei de cumprir se esta contratação não ocorrer?” Muitos não visualizam essa pergunta e vêem o certame como um fim em si mesmo, mas não é, é apenas um dos meios para atingir uma finalidade.

Parte quatro deixo sua última pergunta, para reflexão: O que preciso ter para cumprir essas obrigações de forma eficaz, efetiva, eficiente e em conformidade com as regulamentações vigentes e orientações de boas práticas?

Abraço!

Me interesso imensamente por esse tema. É o cerne, pra mim, da maioria dos problemas em compras públicas. E se relaciona diretamente, concordo, com a profissionalização dos compradores, outro tema que me interessa muito.

A professora Cecília Costa tem um excelente curso de ETP. Ela chama atenção para os diversos vieses cognitivos, coisas que nos fazem humanos e, também, propensos a errar com frequência. Tomar decisões envolve muitos desses vieses. A Cecília fala bastante dos trabalhos de Alexander de Haan, que lida com ferramentas para solução de problemas complexos. E “começar pela solução” é um dos vieses cognitivos mais comuns. É meio automático. Por isso, pensar em necessidade, um bom ETP, precisa ir contra nossos mecanismos automáticos de tomada de decisão.

Cito um trecho do curso da professora Cecília Costa:

Uma necessidade surge de uma situação atual que queremos modificar. Em um futuro, desejamos uma nova situação que contemple aquilo que é importante para nós e que a situação atual não contempla. Esta nova situação chamaremos de “desejo”. Realizar o nosso desejo é nosso objetivo, e por esta razão podemos entender o desejo como um objetivo abstrato. Exemplos de desejos podem ser: mais eficiência em um processo, aquisições mais sustentáveis, melhorar a segurança na troca de informações ou comemorar o aniversário.

Mas se existe um desejo e não há nenhuma dificuldade para realizar este desejo, não temos um problema, porque tudo que temos a fazer é realizá-lo. É exatamente a existência desta dificuldade em realizar o desejo que torna a situação problemática, que cria uma necessidade. Chamaremos esta dificuldade de “dilema”. Dilema pode também ser visto como a coisa indesejada que obtemos realizando o desejo. Exemplos de dilemas são:

• para aquisições mais sustentáveis: o aumento dos gastos com aquisições;

• para melhorar a segurança na troca de informações: a lentidão na troca de mensagens, ou;

• para comemorar o aniversário: incomodar os vizinhos.

Caso esteja difícil definir o dilema, uma técnica é dar uma solução absurda para o desejo e ver a reação do entrevistado que lhe responderá com o dilema. Ele provavelmente dirá algo assim: não podemos fazer isso porque….(dilema). Lembro-me uma vez que o desejo era segurança para pessoas e o entrevistador disse: dobre o número de postos de vigilantes e, na mesma hora, o entrevistado falou “não tenho pessoas para gerenciar tantos vigilantes”.

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Muito bacana @FranklinBrasil! são temas muito instigantes.

Um viés cognitivo muito comum é a confusão entre desejo e necessidade, ou melhor, como transportar esses desejos para as necessidades, depois em requisitos, que ocorre na grande maioria das vezes, resultando em exigências restritivas, demasiadamente exageradas.

Muito legal saber que outros instrutores também exploram esses tópicos, não podia ser diferente.

Muito interessante a técnica sugerida.

A realização de contratações centralizadas, com a criação de células especializadas por temas e subtemas e o estabelecimento de parcerias com instituições como o Inmetro, o INT, o CREA, dentre outras, me parece um caminho viável para profissionalização de todo o processo de compras.

Uma especificação dos requisitos pode chegar a exigir conhecimentos sobre a tecnologia/engenharia de construção do objeto ou da execução do serviço, lembrando que um serviço visa produzir uma mudança, que terá como consequência um resultado e resultado este que precisa ser especificado. Podemos usar como exemplo a necessidade de exibir imagens originadas em computador em uma sala de reunião com capacidade para seis pessoas. Teríamos questões como escolher entre equipamentos de projeção ou de tela, no caso de tela poderíamos usar um televisor ou um monitor ou qualquer um dos dois, também precisaríamos decidir entre telas OLED, IPS, VA, etc… Como decidir qual o tamanho de tela, a resolução, o brilho, o contraste e a profundidade de cor? Qual o mais adequado? É necessário considerar todas essas variáveis?

Em termos de serviço surgiriam questões do tipo: Como avaliar o resultado de um serviço de pintura? Pela uniformidade da refração da cor especificada na área pintada? É possível especificar quanto tempo espera-se que esse resultado permaneça sem sofrer desgaste ou definir um coeficiente de desgaste adequado? As imperfeições da superfície devem ser eliminadas antes da pintura? A pintura deve suportar lavagem com que tipos de produtos?

São requisitos que até podem ser identificados através de uma pesquisa em fóruns técnicos e de fabricantes, mas além de ser uma atividade exaustiva pata quem não atua diretamente com o assunto, corre-se o risco de deixar de fora algum requisito relevante para solução.

Pelos movimentos realizados recentemente pela SEGES e pela SGD, me parece que rumamos para implantação de centrais de compras e para criação de cadernos com especificações de requisitos para as soluções mais comuns. Torço para que estabeleça essa mudança de cultura.

É uma excelente proposta, Cid.

Tenho defendido que o nosso modelo organizacional de equipes de compras públicas não é o mais racional. Equipes “do órgão X”, comprando de fio a pavio só pra o “seu” órgão.

Esse modelo insulado de atuação me incomoda profundamente na gestão pública. Se estamos todos imbuídos do mesmo espírito de gerar valor pro contribuinte, então somos todos servidores da mesma organização. E poderíamos ser aproveitados pelos nossos conhecimentos especializados, não pela vinculação de lotação formal.

Explico.

Poderíamos ter equipes de planejamento e até mesmo de seleção do fornecedor formadas por servidores lotados em diferentes unidades, ministérios, locais. Com as ferramentas de trabalho coletivo online que já temos, presença física não é mais um obstáculo. Podemos ter equipes especializadas, compostas por gente de vários ambientes diferentes. Priorizar a experiência e conhecimento específico.

E isso não depende necessariamente de “central de compras” formal. Poderíamos ter distribuição da elaboração de ETP e TR das necessidades e soluções mais comuns (que provavelmente cobrem mais de 80% das compras gerais da maioria das unidades) em vez de cada um criar documentos do zero ou mesmo copiar do coleguinha sem entender direito do se trata a fonte da informação.

E isso não precisa se limitar às compras. A ideia de servidores amarrados a órgão de lotação não me parece, pelo menos na maioria dos casos, o arranjo mais eficiente para entregar valor público para sociedade.

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@FranklinBrasil e @cidpires, o atual cenário de distanciamento social mostrou para muitos o sucesso dessa iniciativa de ter equipes distanciadas fisicamente, mas juntas on line.

Já acontecia em alguns órgãos, como na CGU, por exemplo, mas a necessidade imposta pelo cenário atual mostrou para aqueles mais descrentes que esse será um dos caminhos do futuro.

Até mesmo o impacto do esvaziamento de alguns órgãos seria arrefecido por iniciativas como essa.

E como bem disse o @FranklinBrasil o uso do conhecimento seria potencializado extrapolando a fronteira da formalidade da lotação.

Vejo da mesma forma @FranklinBrasil e @Marcelo_Thiers. Parece que precisaremos reviver o processo de aprendizado e modernização vivido pelas organizações a partir do meio do século passado, com o advento da Ciência da Administração e os conceitos de racionalização, especialização do trabalho, organização e métodos, até chegar ao foco no resultado produzido para o cliente.

Felizmente já existe iniciativa no sentido de trabalhar em um modelo parecido com o apresentado pelo Franklin. Na Semana de Inovação de 2017 (ENAP), o INSS apesentou o projeto INSS Digital, que criou polos para análise das requisições, alterando o processo de análise executado no local da demanda, para análise em polos de análise remotos (podendo estar qualquer região do país), com distribuição eletrônica, balanceada de acordo com o perfil dos analistas do polo e a quantidade de processos em análise por cada polo/analista. Utilizaram um software público aperfeiçoado, na época também em uso pela ANAC (que apresentou o sistema no mesmo evento) e pela ANS, o GET – Gerenciador de Tarefas, que apesar do nome, se propõe a gerenciar e realizar distribuição balanceada de atividades, considerando até a relação entre competências disponíveis na equipe x complexidade requerida pela atividade. Parece que todo este processo rendeu bons resultados para sociedade, mas também elevou a demanda e criou novos desafios.

Considero o caso do INSS Digital um exemplo de que é possível fazer este modelo dar certo e que temos competência para isso, mas precisamos de ações coordenadas que instituam um processo único e disseminem este conhecimento para todos os órgãos.
Abaixo o link para o documento do projeto do INSS Digital. Caso algum colega tenha conhecimento sobre como anda esse tipo de iniciativa no INSS, na ANAC e na ANS, poste aqui por favor.

Abraço,
Cid Pires

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