Os desafios que a pandemia trouxeram ao setor produtivo não atingiram as instituições bancárias de modo tão brutal como empresas de outros setores, visto que mesmo em 2020, ano marcado pelo começo da pandemia, o golpe não foi tão grande, apresentando estes lucros ainda vultosos e evasão de consumidores muito baixa. (Impacto da pandemia sobre bancos cai 50% em teste de estresse)
Porém, se uma pandemia parece não perturbar o poderio dos bancos tradicionais, algo vem sim tirando seu sono, a concorrência dos bancos digitais, em sua maioria constituída de startups, também chamadas de fintechs.
Para buscar combater este cenário desfavorável, e aliado ao indicativo político liberal do Ministério da Economia de Paulo Guedes, André Brandão, que assumiu a Presidência do Banco após renúncia de seu antecessor, já na gestão Guedes, anunciou no começo do ano medidas de alta contenção de gastos, com demissão de pessoal e redução de agência.
Cumpre asseverar que tal decisão não fora tomada com o único intuito de redução de gastos e bom aceno ao mercao, o chamado “cortar na própria pele”, mas pautado em uma agenda do banco pela digitalização de seus serviços, ou seja, fazer o mesmo (ou até mais) com menos, princípio da eficiência que é lei escrita pra iniciativa pública e lei de fé para a privada, sendo assim, o Banco do Brasil, sendo uma sociedade de economia mista, deve atender aos dois mundos.
Ocorre que há especulações de que o conjunto de ações visando a eficiência do Banco, sob a tutela de André Brandão, não fora bem recebida pelo comando da esfera pública, e tal situação se escancarou ainda em Janeiro do presente ano (2021).
Sendo assim, em uma análise empírica rudimentar, apresento abaixo o gráfico da cotação das ações do Banco do Brasil (BBAS3), que apontam queda de seu valor desde então.
Sendo assim, pode ter parecido surpresa para alguns, mas para todos que operam no mercado a queda de Brandão era carta marcada e os custos desta operação já tidas avaliadas na bolsa. Tanto que as ações no dia de hoje (19/03), um dia após o anúncio da renúncia, tiveram ínfima variação.
E O ESG?
Então, o Banco do Brasil se vê ameaçado por agentes externos de seu habitat natural (Enviromental), sendo que a transformação tecnológica trazida pela industria 4.0 impacta frontalmente seu setor. Ignorar tal situação é padecer no ostracismo. Os avanços no sentido da evolução digital e o acompanhamento de políticas de digitalização são imperiosas.
No contexto da sociedade (Social), há um impacto deveras negativo com a demissão de mais de 5 mil funcionários e o fechamento de centas de agências, isso tudo aliado a um Programa de Demissão Voluntária também oferecida no pacote de Brandão. Este contudo é um sinal das novas eras, vale a pena preservar empregos obsoletos? O mercado falará que não, mas os políticos podem ordenar que sim.
Chegamos então ao conhecido conflito de agência, que somente pode ser controlado por uma boa governança (Governance). Como atender à dois senhores? Bem. Esta não é uma fórmula simples, obviamente, pois caso o fosse as estatais seriam a melhores empresas do planeta, posto que por um lado possuem o braço forte do estado e do outro sustentam posições de mercado vantajosas e que às alavancam na esfera privada.
Sendo assim, este equilíbrio fino é uma missão árdua dos dirigentes de cada estatal. Portanto, Brandão resolveu tomar um caminho, o que acabou encurtando o outro.
Nesta análise não pretendo esboçar entusiamo liberal com a pauta de Brandão, tampouco acobertar medidas intervencionistas do governo, apenas deixo evidente que há um longo caminho para que as Estatais possam atingir seu máximo e almejado fim, qual seja, de gerar valor econômico agregado em posições políticas estratégicas ao desenvolvimento do país.
Novamente, não nos deixemos abduzir pela bandeira simplista do “fim das estatais” e da “privatização já”, mas não podemos deixar de lutar pelo equilíbrio e ajuste de contas, além da boa governança destas mesmas empresas.
Pedro Henrique Souza
Advogado, especialista em Responsabilidade Civil e Contratos, atua nas áreas de direito empresarial e cível, com foco em Governança Corporativa, Gestão de Riscos e implementação de Programas de Integridade e Sistema de Gestão de Compliance, tendo experiência em consultoria legislativa na Câmara dos Deputados e passagem pelo Poder Executivo Federal (Ministério do Trabalho). Atualmente é Diretor no IBIP (Instituto Brasileiro de Integridade Pública) e Ouvidor da Rede Governança Brasil. Auditor Interno e Implementador Líder da ISO 37001:2017.