@Kerley_Cristhina, me solidarizo com a sua angústia. Entre o ideal e o real vai uma distância enorme. Nem por isso a gente pode deixar de sonhar e acreditar na mudança. Espero, sinceramente, ver a ideia do ETP - a verdadeira análise da necessidade e estudo de soluções - implantada de forma coerente. Torço muito pelo amadurecimento da nossa inteligência de compras.
Sobre o seu caso concreto, me parece que, além de NF que comprovem os custos originais e atuais, seria razoável verificar a compatibilidade entre os valores praticados na proposta e no pedido de reequilíbrilo em relação ao mercado.
Pato de Minas é uma cidade com enorme produção de leite, entre as maiores do país. Não sei se isso se reflete em preços melhores do produto industrializado.
De qualquer forma, digamos que o preço médio na época da licitação (dez/21) fosse R$ 5,35 por litro de leite longa vida. Uma forma de obter essa informação é a estimativa da licitação. Em tese, ela buscou capturar o preço médio da época, praticado na região. Vi que a estimativa do Pregão na Câmara foi exatamente R$ 5,35.
Digamos que, para ganhar a licitação, a empresa tenha proposto fornecer o leite a R$ 4,50. Isso representaria 84% do preço médio de mercado (estimado), em nosso exemplo hipotético.
Me parece pouco razoável aceitar que a empresa, agora, passasse a receber 100% do valor médio de mercado. Eu, se estivesse avaliando um pedido de reequilíbrio, buscaria manter a proporção de oferta original ou, no mínimo, entender o que aconteceu com a dinâmica de custos da empresa no período. Reequilíbrio não deve servir para corrigir eventuais distorções da proposta.
É fato que o leite longa vida subiu acima da inflação nos últimos seis meses, a julgar, por exemplo, pelo histórico disponível no site Zoom em que uma marca passou de R$ 3,89 em jan/22 para R$ 5,19 em jun/22 (gráfico histórico de preços, opção últimos 6 meses na página).
Pelo Zoom, então, temos um indicador de aumento de 33% no primeiro semestre do ano. A inflação medida pelo IPCA em 2021 no Brasil foi de 10%. O leite descolou mesmo do aumento geral.
Usando o Painel de Preços, filtrando “caixa de 1 litro” de Leite Integral ou Desnatado tipo A, também é possível identificar tendência forte de alta dos preços. A mediana unitária passou de R$ 3,87 em janeiro/22 para R$ 4,60 em jun/22. Aumento de 19%. Quando filtramos as pequenas quantidades (até 2.000 unidades) somente em Minas Gerais, a mediana foi de R$ 3,35 em jan/22 para R$ 5,98 em mai/22, aumento de 78%. Confirma a hipótese de aumento forte e abrupto dos preços.
Podemos também avaliar preços de varejo disponíveis na Internet em sites de fornecedores em Patos de Minas. Encontramos, por exemplo, ofertas do BIG (R$ 5,49), Bernardao (5,19), ABC (5,49), ASUN (5,19). O preço médio de varejo na cidade, portanto, parece gravitar em torno de R$ 5,35.
Ora, R$ 5,35 foi exatamente a estimativa do pregão que deu origem ao contrato. O que me faz questionar se há elementos suficientes para apontar que o preço atual no mercado está muito superior ao que foi licitado.
Ficou claro que houve aumento significativo do preço médio do leite nos últimos meses. Mas o preço atual no mercado parece estar ainda condizente com os valores estimados na licitação e que balizaram a contratação.
Pode haver outros elementos envolvidos no caso. Estou levando em conta apenas o preço de aquisição do produto, mas o contrato pode ter condições de fornecimento que influenciem os valores a serem praticados no contrato. Isso, só uma análise mais profunda pode revelar.
O que estou tentando argumentar é que um pedido de reequilíbrio é bem mais complexo do que apenas comparar notas fiscais apresentadas pelo fornecedor. Ele tem o domínio sobre essa informação, então a gente precisa estar atento a outros aspectos para buscar validar a razoabilidade do pedido.
Espero ter contribuído.