Trabalho remoto para o serviço público desnecessariamente presencial

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Eu sou suspeito, porque sempre tive a mesma visão do autor do artigo, mesmo quando trabalhava na iniciativa privada. Poucas vezes trabalhei atendendo pessoas e quase a totalidade das funções desempenhadas por mim eram através do computador. Portanto, esta visão de trabalho remoto já me acompanha há quase duas décadas. Assim que entrei no serviço público, vi uma matéria sobre o teletrabalho no TCU/CGU e, pouco depois, acontecia a pandemia. Lembro que sugeri um piloto de teletrabalho no órgão em que trabalho como solução para pouco espaço e forma de reduzir custos. Na minha ideia começaríamos com setores que não atendiam ao público, tal como a Auditoria Interna. Disseram que não poderiam, que não havia regulamentação, que isso e aquilo, mesmo o órgão tendo autonomia administrativa. Menos de um ano depois ocorreu a pandemia e todos fomos forçados a trabalhar remotamente.
Lula disse, certa vez, que a pandemia havia sido um presente de Deus (da natureza) para justificar um Estado forte. Eu digo que um dos benefícios da pandemia (porque acho que sempre temos que tentar enxergar o lado bom das coisas) foi abrir os olhos dos gestores do século passado para os benefícios de uma mudança de paradigma nas relações de trabalho, especialmente se os benefícios ultrapassam, de sobra, os malefícios. Alguns gestores possuem um bloqueio tão grande que não conseguem entender que um piloto é para testar e não é definitivo. Será medo? Medo de quê? De dar certo?
O problema do teletrabalho são as chefias com suas visões retrógradas sobre relações de trabalho. De certa forma, somos pagos para dedicarmos tempo a uma função, somos pagos para estarmos disponíveis. Alguns realmente desempenham suas funções quase sem parar, outros só estão disponíveis para quando surgir a demanda. Nosso trabalho representa muito mais disponibilidade do que execução, na maioria das vezes; seja na iniciativa privada ou no serviço público. Alguns realmente trabalham mais do que outros, mas ambos estão vendendo a disponibilidade no trabalho presencial.
Seria mais fácil implementar o teletrabalho se algum órgão do governo criasse métricas para cada função do serviço público, a fim de “ensinar” aos gestores como fazer a cobrança de seus subordinados. Afinal, a maioria das atividades administrativas podem ser identificadas, além de várias delas serem comuns a diversas funções. Como exemplo, cito a Worldwide Cleaning Industry Association - ISSA como exemplo. Talvez seja pedir muito.
De qualquer modo, gostei muito do artigo.

PS: Tentamos implementar a metodologia da ISSA isso aqui no órgão, mas não aceitam nem discutir a possibilidade.